Comerciantes das principais capitais do país amargam prejuízos, demissões e medo de ter de fechar as portas definitivamente por causa dos efeitos econômicos decorrentes das medidas para conter a pandemia do novo coronavírus.

Ao menos 113 shopping centers – o equivalente a 20% do país adotaram o drive-thru como alternativa para as vendas. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers, a expectativa era que esse número crescesse ainda mais conforme a aproximação do Dia das Mães. Entretanto, os consumidores não apareceram em boa parte dos centros comerciais que voltaram a funcionar. Até o último sábado (2/5), o movimento nas unidades da rede em shoppings de Campo Grande (MS) e do Estado de Santa Catarina foi 80% abaixo do normal. Já em Betim (MG), a queda foi de 73%.

“Ficar aberto não tem pago nem os custos de mercadoria”, disse Emiliano Silva, diretor de operações da rede de restaurantes Divino Fogão. “Vou fechar minhas duas lojas em Santa Catarina”, afirma Tito Bessa Junior Jr., dono da rede de vestuário TNG.

Tradicionais ruas de comércio da capital paulista estão desertas. Mesmo atividades que podem continuar funcionando, como farmácias, tiveram declínio nas vendas. Lojistas das principais ruas de comércio da cidade de São Paulo aguardam orientações oficiais sobre protocolos para a reabertura e não sabem como será o processo de retomada das atividades, mas já têm uma certeza: demissões estão em andamento, e muitos negócios não vão reabrir as portas.

Altamiro Carvalho, economista da FecomercioSP, afirma que “estamos no meio do incêndio e só quando os bombeiros apagarem saberemos o tamanho do prejuízo”. “O varejo na capital paulista emprega 1 milhão de pessoas”, complementou Altamiro. Associações cobram das autoridades suspensões no pagamento de tributos e pedem que os governos apresentem soluções.

A FecomercioSP estima uma perda diária de cerca de R$ 300 milhões de faturamento bruto no comércio não essencial, setor que agrega autopeças, concessionárias, eletrodomésticos, construção, móveis, decoração e vestuário. A conta não inclui mercados e farmácias, que permanecerão abertos durante o isolamento da pandemia. A entidade destaca que não se pode tratar como prejuízo, já que alguns estabelecimentos fecharão as portas, mas continuarão funcionando. A expectativa é feita com base no comércio diário de março a maio do ano passado.

A Federação ressalta que o prejuízo é cumulativo e depende do período que durar o isolamento. Se a loja ficar duas semanas fechadas, o varejo se recupera. Se prolongar para três meses, há risco de demissão, de perda total de caixa, e “o comerciante não voltar mais”, diz Guilherme Dieze, economista da entidade.

Segundo projeção de Rodolfo Olivo, professor de economia da Fundação Instituto de Administração – FIA, o custo de parar São Paulo pode chegar a R$ 2 bilhões por semana, . Ele usou dados do PIB do Estado e uma projeção de perdas divida por setores, baseada em números de consultorias dos Estados Unidos. Olivo afirma que o custo pode chegar a R$ 287 milhões ao dia, o que leva a R$ 2 bilhões por semana e representa uma queda de 18% do PIB da capital paulista.

Na região central da capital paulista, 15 mil empresas formam os maiores e mais populares polos varejistas do Brasil. No Circuito das Compras estão a região do Brás (forte em produtos de cama, mesa e banho), da Santa Ifigênia (eletroeletrônicos), a rua 25 de Março (bijuterias e importados no geral), o bairro do Bom Retiro (vestuário, especialmente atacado, que abastece lojistas do Sul ao Nordeste) e o bairro da Liberdade, marcado pela cultura nipônica (restaurantes e importados). O setor vem buscando no poder público a suspensão de impostos por 120 dias, como ICMS, IPTU e ISS.

Fonte: Folha de S. Paulo
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