* por Tânia Gomes

Quem passou por uma cadeira da faculdade de administração deve lembrar de Jules Henri Fayol, criador da teoria clássica da administração. Em 1916, ele definiu as funções básicas do administrador: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar.

O que o autor não poderia imaginar é que haveria o acréscimo de uma função, e que ela iria, em alguns momentos se sobrepor as demais, em outros, iria atropelar todas elas e nos fazer repensar tudo que as teorias nos ensinaram.

Em 2021, além da lista de Fayol, nós, administradores, temos o desafio de entender inovação e, indo além, compreender as conexões que existem entre essas inovações e nossos negócios. São complementares? São similares? São concorrentes?

Num mundo em que startups, open innovation, venture building, venture capital são os termos quentes do mercado, onde estamos nós, que temos que planejar, organizar, coordenar?

Em que momento do dia temos disponibilidade para inovar? Esse tema é tão sensível para quem tem a responsabilidade de administrar um negócio, que temos inúmeros exemplos de gigantes que morreram por negar-se a entender inovação.

A Blackberry, por exemplo, chegou a ter 50% do mercado de celulares nos Estados Unidos e em 29 de junho de 1997, quando foi lançado o iPhone, a companhia não viu um concorrente com quem devesse se preocupar. Usando um ditado popular, a Apple foi água e contornou a questão de segurança de e-mails empresariais, quando dominou primeiro o mercado de consumidores pessoas físicas e depois incentivou o movimento chamado BYOD (bring your own device – traga seu próprio aparelho) em que as pessoas começaram a usar seus próprios celulares para assuntos profissionais. Isso redefiniu o mercado, levando a Blackberry à falência.

Administradores não são obrigados a se tornarem especialistas em inovação. Até porque esse é um dos universos mais intensos e complexos que temos. Inovação é um tema amplo, que nos leva a trocar o lixo reciclável por produtos do supermercado usando um app até a construção de foguetes espaciais que nos levarão a Marte.

Mas o administrador tem a obrigação de saber a hora da tomada da decisão.

O que quero dizer com isso? Há um momento em que qualquer negócio precisa da inovação aplicada ao seu modelo. Na grande maioria das vezes essa não é uma decisão tão difícil. Quando você administra um restaurante e opta por colocar seu cardápio na Rappi ou iFood, optou por inovar em seu canal de vendas. E, apesar da taxa cobrada, a conclusão é que a presença do restaurante nesse canal é importante. Em tempos de pandemia, foi essencial.

Mas existem negócios que exigem um olhar mais apurado sobre inovação, antes que sejam atingidos ou até destruídos por uma resposta mais inovadora. Se voltarmos ao caso Blackberry, será que não havia espaço para que eles inovassem através de novos produtos ou repensassem o produto principal? Se você tem 50% de share de um mercado, é muito provável que seu público tenha certa fidelidade a marca e esteja disposta a experimentar suas inovações.

O maior desafio do bom administrador, a frente de um negócio mais tradicional, é fazer a companhia aceitar o fato de que nem sempre se faz inovação sozinho. Por mais gigante que seja, ela pode não conseguir reunir as melhores condições, já que o conceito tradicional de inovar um produto usa uma estrutura vertical, em que pesquisas e desenvolvimento são feitos internamente e só depois apresentados ao mercado. Enquanto que, com um programa de open innovation, seja criando células de inovação independentes ou contratando organizações que transitam pelo ecossistema de inovação, essas companhias podem construir desafios, hackatons ou programas de aceleração para projetos de colaboradores e ter resultados muito mais rápidos, assertivos e eficientes.

Inovação aberta é uma das ferramentas de apoio mais impressionantes, em termos de resultados, que uma companhia pode ter. Basta ver Oxigênio, aceleradora da Porto Seguro, Cubo, do Itaú, Pateo76 da ACSP e o IbraWork, hub de inovação do Ibrachina.

Como administradora, meu conselho aos colegas neste nosso dia é que não sofram sozinhos! Inovação se constrói em comunidade, com a comunidade e para toda comunidade!

* Tânia Gomes é empreendedora e head da AcBoost, programa de fomento à inovação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)

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