Por Evanildo da Silveira

O tradicional comércio de produtos eletroeletrônicos do bairro da Santa Ifigênia, que engloba a rua de mesmo nome e adjacências na região central da capital paulista, não ficou imune à crise política e econômica que o país atravessa. No conjunto, o faturamento das lojas locais caiu até 50% em 2018, em relação aos resultados de 2017, dependendo do setor ou tipo de produto. O que evitou que o desempenho fosse ainda pior foram os games e os produtos desenvolvidos para eles, cujas vendas são influenciadas por alguns campeonatos disputados pela internet.

Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Santa Ifigênia, Joseph Riachi, um dos setores com a maior queda em 2018 foi o de equipamentos de som profissional, com redução de 50% nas vendas. Depois vem o de energia, com 40%; informática (excluindo os games) de 30% a 35%; elétrico com 30%; e segurança, que registrou queda de 20%. “A área que teve a menor queda foi a de games e de produtos de informática voltados para eles, que foi de 10% a 15%”, diz. “Em parte, isso pode ser atribuído às crianças e aos adolescentes, que fazem os pais comprarem os equipamentos nos seus aniversários ou fim de ano”.

A realização de campeonatos de games é outro fator que ajudou a evitar uma queda maior no desempenho do segmento. “A vida virtual dos usuários e esses campeonatos pela internet impactam no comércio daqui”, diz Riachi. “Quando alguém quer comprar um computador para jogos, o primeiro lugar que pensa é na região da Santa Ifigênia”.

É o que acontece com a loja Naja, que comercializa computadores e acessórios comuns, também para games. “Hoje é uma profissão ser jogador”, diz seu gerente, Arnaldo Müller. “As indústrias desenvolvem hardwares e até cadeiras especiais, tendo este público como alvo”.

De acordo com ele, o setor está crescendo muito e as vendas se destacam, principalmente, pelo valor maior dos equipamentos. “Uma placa de vídeo de alta qualidade para jogos, por exemplo, custa de R$ 7 mil a R$ 9 mil”, explica. “Um computador, por sua vez, pode custar de R$ 30 mil a R$ 40 mil, dependendo do modelo”.

Mas os compradores não são apenas os jogadores profissionais. De acordo com Müller, há muitas crianças que querem iniciar no mundo dos games e levam os pais até as lojas para comprarem equipamentos. “Hoje, 50% das nossas vendas são feitas por solicitação das crianças”, conta. “Elas chegam à loja com uma lista completa dos acessórios que desejam e o os pais compram exatamente aquilo que elas indicam”.

 

Cadeiras especiais

Entre os equipamentos mais comercializados estão: placa de vídeo, fones de ouvido, teclado mecânico – que tem uma procura grande – e mouses. “Também oferecemos cadeiras gamers, ou seja, especiais, para dar conforto a quem fica muito tempo sentado à frente do computador. Elas custam a partir de R$ 820,00”, conta. “São produtos destinados ao público gamer, que, calculando por baixo, é responsável por 50% de nossas vendas. O preço de uma máquina específica para games é o equivalente ao de duas ou três das que são usadas por empresas e escritórios, setor que responde pelos outros 50% do nosso resultado”.

 

Influência dos youtubers

Os campeonatos de jogos pela internet também são responsáveis por boa parte do faturamento da GRX Informática. “Eles impactam positivamente em nossas vendas”, revela o gerente da loja, Rodrigo Fernando Correa de Souza. “O que ajuda bastante os bons resultados é a divulgação dos jogos pela internet. Os youtubers divulgam bastante os games, fazem testes e propaganda das empresas desenvolvedoras. Eles também impulsionam a comercialização de cadeiras”.

Assim como Müller, Souza atribui uma grande importância às crianças nesse comércio. “Elas têm youtubers como ídolos, que são influenciadores digitais”, explica. “Isso impacta nas vendas. Os fãs querem fazer o que seus ídolos sugerem.” Entre os equipamentos e acessórios mais procurados na GRX estão os PC Gamers (computadores para jogos), placa de vídeo, teclado mecânico e mouse óptico.

Segundo Souza, o modelo de computador que o cliente quer depende do jogo. “Há games que demandam uma máquina simples, outros, uma mediana e alguns, uma de alto desempenho”, diz. “Esses computadores para jogos são encontrados na região da Santa Ifigênia a partir de R$ 2.500,00 e representam 80% das vendas”.

A Tecnomult, empresa do próprio Riachi, também sente a influência das crianças apreciadoras de games e dos youtubers que os divulgam em seus canais. “Hoje, pelo menos 80% do nosso faturamento está relacionado aos jogos”, conta o gerente da loja, Júlio César Zamforlin. “Nosso segmento é voltado para eles. Comercializamos máquinas e acessórios, além de cadeiras especiais”. Embora não tenha números, Zamforlin comenta que houve uma queda grande das vendas em 2018, mas que a partir de dezembro a loja começou a sentir um movimento de recuperação.

 

Esperança

Segundo Riachi, a esperança do setor é que os resultados de 2019 sejam melhores do que os do ano passado, mas isso ainda não começou a ocorrer. “Começamos a perceber que as pessoas estão ficando mais confiantes em fazer negócios, estão ‘abrindo a mão’, como a gente diz, para fazer compras. Estamos jogando com a esperança da melhora”.

Para Riachi, nada impede que o Brasil volte a crescer, porque é um país consumidor. “Também contamos com um nível de emprego um pouco maior a partir deste ano”, diz. “Num primeiro momento, esperamos voltar ao equilíbrio, ao nível de venda anterior ao da queda do ano passado, recuperar o terreno perdido. Isso começará a ser sentido no final do primeiro semestre e começo do segundo”.

Segundo Arnaldo Müller, gerente da Naja, esse mercado de equipamentos e acessórios para jogos começou a crescer há, mais ou menos, dois anos e está mais forte do que nunca. “Tivemos um crescimento de 15% a 20% em 2018”, revela. “Agora, com a troca de governo, a expectativa é de ampliação. Esperamos aumentar os negócios em 30% em 2019”.

No caso da GRX, apesar da subida das vendas por causa do jogo Fortnite, o faturamento da loja se manteve estável em 2018 em relação a 2017. Para 2019, Souza não fala em números, mas espera que os resultados sejam maiores do que os do ano passado. “Sempre esperamos que um dia seja melhor que o outro”, finaliza.

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