Para quem pretende renovar o vestuário, presentear um amigo com roupa da moda a preço de atacado e que tenha a mesma qualidade oferecida pelos shoppings da cidade, a melhor opção é visitar as lojas do bairro Bom Retiro, em São Paulo (SP). Esta é a principal época para aproveitar as liquidações e os lançamentos da moda outono/inverno.

O presidente da CDL – Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, Nelson Tranquez Júnior, confirma que os preços no bairro são melhores do que em shoppings ou nas grandes lojas devido a uma peculiaridade das confecções que trabalham com o atacado e o varejo. “Quando um produto não foi totalmente consumido pelo atacadista, a loja destina as peças remanescentes ao consumidor comum com descontos especiais. O cliente do varejo que compra no Bom Retiro, basicamente na José Paulino, sabe que sempre encontra grandes opções de preços e produtos de qualidade”.

Tranquez comenta que, neste início de ano, as lojas estão com preços ainda melhores devido à queima de estoque, pois já começam os lançamentos da moda outono/inverno, como nas feiras Couro Moda e Fenin Fashion, realizadas na semana de 13 a 18 de janeiro. “Aqui no Bom Retiro, por exemplo, nas ruas Aimorés, Cesar Lombroso, Ribeiro de Lima, Silva Pinto, que é uma região exclusivamente de atacado, muitas coleções já estão prontas e começam a ser vendidas”. Segundo ele, as vendas no atacado crescem a partir do Carnaval. “Estamos num intervalo entre uma estação e outra e as lojas querem liquidar seus estoques. Esse movimento vai até a entrada da nova coleção. A nossa empresa já começa a trabalhar com a moda outono e inverno”, afirma.

Devemos ter grande movimento na primeira semana após o Carnaval, pelo menos a vinda dos clientes está confirmada. E aí vai depender da gente e nossa ideia é proporcionar o melhor preço e o melhor produto. É isso que precisamos fazer”.

 

Turismo de compras

O Bom Retiro recebe, diariamente, de 80 mil a 100 mil pessoas, número que dobra aos fins de semana e em datas especiais ou em feriados prolongados. Por ser um bairro central da cidade de São Paulo, conta com várias opções de transporte. É servido por linhas de trem da CPTM e do Metrô, que levam os passageiros à estação da Luz e Tiradentes e tem várias linhas de ônibus que passam pelo bairro, o que facilita a circulação do público. Para quem vem de avião, há uma linha de metrô que liga a estação da Luz e o Aeroporto de Guarulhos.

O presidente da CDL Bom Retiro diz que o bairro recebe vários tipos de turistas. Tem os que não são propriamente turistas e sim compradores, lojistas de outras cidades que viajam a noite toda de ônibus, chegam pela manhã, fazem suas compras e retornam no mesmo dia. “Estes representam uma grande quantidade de pessoas, embora já tenha sido muito maior”. Também há os donos de lojas de outras cidades que vêm e se hospedam em hotéis, ficam dois ou três dias na cidade fazendo compras. Grande parte desses lojistas, que são de grandes lojas, visita seus fornecedores e aproveita para fazer turismo. “Além de comprar, eles vão ao teatro, cinema, restaurantes, inclusive, sempre damos indicações quando eles solicitam”. Outros clientes ficam na cidade a semana toda, aproveitam a diversidade gastronômica da região e as atividades culturais nos fins de semana, fazendo suas compras nos dias úteis.

O Bom Retiro é bem servido por hotéis e uma grande quantidade de restaurantes, como o Bom Ra, que fica na Rua dos Italianos, 198; o Acrópoles, restaurante grego de muitos anos que fica na Rua da Graça, 364 e os restaurantes coreanos. A colônia coreana trouxe a sua cozinha, que está na moda. Muita gente atravessa São Paulo ou vem de outros estados para conhecer a culinária coreana que, segundo Tranquez, está concentrada na região das ruas Prates, Correia de Melo e Três Rio, como, por exemplo, o New Shin La Kwan, na Rua Prates, o H & W – Asawon, na Rua Correia de Melo, o Seok Joung, também na Rua Correia de Melo e o Bu tu mak, na Rua Três Rios.

Como opção cultural, os turistas podem visitar o Museu da Língua Portuguesa, que será reinaugurado no fim deste ano, com a finalização da reforma após o incêndio. “Aqui no bairro temos o Museu de Arte Sacra, a Pinacoteca do Estado, o SESC Bom Retiro, que fica na Alameda Nothman, e a Oficina Cultural Oswald de Andrade. Estamos cercados de opções culturais”, diz, ao recomendar um passeio pelo Parque da Luz, que é o pulmão verde do centro de São Paulo.

Tranquez lamenta que pouca gente conheça e transite pelo parque. “Já esteve melhor. Entretanto, é um parque extremamente aprazível e arborizado. Ao passar pelo parque, saindo da Rua José Paulino, é possível sentir uma temperatura mais amena, além de ser um local muito bonito, com árvores centenárias e que oferece uma série de atividades. É uma atração interessante aos turistas e também aos moradores da cidade”. Diz ainda que, aos fins de semana, o Jardim da Luz é muito frequentado pelas famílias de coreanos que residem no bairro.

Influência coreana

O Bom Retiro congrega em torno de 1.600 empresas, das quais, pelo menos, 1.200 trabalham com confecções, gerando 50 mil empregos diretos e 30 mil indiretos. “A cadeia produtiva engloba as confecções, tecelagens, lojas de máquinas, de tecidos, aviamentos, insumos. Enfim, temos tudo para o nosso setor”. Tranquez comenta que a indústria de confecções se desenvolve no bairro há muitos anos e que por volta de 1930 havia vários sítios, entrepostos e, aos poucos, foi se tornando uma área comercial, primeiro com os italianos, depois os árabes, a colônia judaica, que foi preponderante no bairro e, a partir dos anos 1970, com os coreanos, que fizeram bons investimentos.

Os coreanos, segundo Tranquez, são responsáveis pela mudança positiva do bairro em termos de modernização, criação, novo visual das lojas, dos produtos. Eles foram importantes nesse processo de desenvolvimento do Bom Retiro. “Em torno de 45% a 50% dos lojistas e fabricantes do bairro são coreanos, que vivem na região com suas famílias. Muitos têm a fábrica aqui, outros terceirizam a costura e, nesse caso, a produção é feita fora da cidade de São Paulo”, afirma.

 

Vendas pelo whatsapp para enfrentar a crise

O presidente da CDL diz que o Bom Retiro tem empresas de ótimo nível, que atendem lojistas com marca própria, as grandes lojas de outras localidades e redes multimarcas. “Hoje somos responsáveis por 40% da moda bacana produzida no Brasil, masculina e feminina. O cliente que quer qualidade, um produto diferenciado, vai encontrar aqui. Seguimos tentando melhorar cada vez mais o nosso atendimento”.

O CDL proporciona cursos de capacitação e de educação continuada para treinar e capacitar os vendedores e demais colaboradores das lojas, visando a melhora contínua do atendimento. “A grade curricular para os próximos quatro meses tem cursos de atendimento e marketing nas redes sociais, mostrando que a internet e as redes sociais vieram para auxiliar o lojista e os fabricantes”.

Em sua opinião, o comércio pela internet, em breve, será muito mais forte. Explica que muitas lojas já trabalham com e-commerce e que, gradativamente, essa prática se tornará importante, já que, no Brasil, ainda há muito espaço para crescer. “As vendas pela internet atingem cerca de 15% do total. No setor de confecção, este tipo de venda ainda vai demorar um pouco. A pessoa quer experimentar a peça, sentir o produto, o caimento, a modelagem, o que faz com que a loja seja importante. Mas, gradativamente, as vendas físicas e virtuais
serão complementares”, acredita.

Segundo ele, uma opção que já está sendo muito usada é a venda pelo WhatsApp, visando atender aqueles clientes que, por algum motivo, reduziram suas vindas a São Paulo. Comenta que, antes da crise, havia cliente que vinha ao Bom Retiro todo mês, alguns a cada 15 dias. Com as vendas menores, eles diminuíram as viagens visando reduzir despesas.

Ele informa que, diante disso, alguns lojistas estão oferecendo seus produtos e fechando pedidos pelo WhatsApp. Assim que entra a mercadoria eles enviam a informação e recebem o pedido. “Esta tem sido uma ferramenta muito importante para manutenção das vendas na impossibilidade de o cliente vir até a loja. Não podemos deixar a venda cair porque o cliente está com dificuldades financeiras de vir a São Paulo”.

Tranquez diz ainda que os lojistas estão buscando outras formas de atendimento, como o WhatsApp e as redes sociais, que são permanentemente atualizadas. “O Instagram é um instrumento fantástico e trabalhamos muito com ele, postamos o máximo possível de imagens de produtos para estarmos sempre presentes no ponto de venda do cliente. Mesmo que ele não possa vir a São Paulo, nós temos que falar com ele e mostrar as novidades. Esta é a única forma de evitar a queda no faturamento”, conclui.

Parque da Luz – Turismo e lazer num dos pontos históricos da cidade

Diariamente, o Parque Jardim da Luz recebe cerca de 1.500 pessoas, número que, segundo a administradora do parque, Maria Fernanda de Souza Ferreira, dobra aos fins de semana. Aberto ao público em 1826, com 113.400 m² de área verde, o Jardim da Luz está localizado na Rua Ribeiro de Lima, no centro da cidade de São Paulo, ao lado da Estação da Luz e da Rua José Paulino, no Bom Retiro, e funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 18 horas. Às segundas-feiras o parque é fechado para manutenção.

Maria Fernanda reconhece que, para quem não está acostumado, o perfil das pessoas no entorno do parque assusta. Problema comum nas grandes cidades do mundo, é cada vez maior o número de dependentes químicos pelas ruas. “Entretanto, é muito tranquilo aqui dentro, não tem furto e, apesar do perfil difícil, estas pessoas não dão trabalho e às vezes até me ajudam, temos um relacionamento tranquilo”.

Ela conta que muitas pessoas aproveitam para visitar a Pinacoteca e o Parque no mesmo dia. “Também recebemos, pelo menos, duas escolas por semana”, comenta. Os alunos, além de admirarem a bela paisagem do local, conhecem um pouco mais sobre a história do parque, visitando o museu histórico sobre Artur Etzel (primeiro administrador do espaço), que só é aberto para visitas monitoradas.

Quando de sua inauguração, o parque tinha plantas da botânica francesa, hoje as árvores são da mata atlântica. “Temos árvores centenárias: jatobás, patas de elefante, entre outras”, diz.

Segundo Maria Fernanda, o parque recebe turistas de diversas partes do Brasil e do Exterior. Comenta que é comum encontrar pessoas que não falam português e que, quem mora na região, frequenta o parque para fazer ginástica. “Aos domingos, os coreanos, donos das lojas da Rua José Paulino, que residem em cima das lojas, vêm passar o dia todo aqui com a família. O parque recebe muito coreano, boliviano, peruano, gente que mora na região”.

Maria Fernanda aproveita para fazer um convite. “Venham nos visitar. Este é um parque maravilhoso, tranquilo, com segurança dia e noite. Tem a gruta que parece a casinha dos Flintstones, coisa mais linda, com chafariz, hiper visitada. Ela foi construída na década de 1880, e também funciona como uma grande caixa d’água, com capacidade para 25 mil litros. No alto, há um mirante que proporciona uma vista quase completa do parque”.

Ela informa que o aquário subterrâneo está fechado. “Às vezes tínhamos problema com pessoas lá dentro, além disso, está com infiltração e não sabemos os riscos que ele oferece. O aquário está vazio, mas se alguém pede para visitar e conhecer as instalações, ela entra com um vigilante e depois fechamos novamente”.

Maria Fernanda espera que logo iniciem as obras para resolver o problema da infiltração. Segundo ela, o parque é tombado por três órgãos: municipal, estadual e federal. Para qualquer obra é preciso pedir para o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) fazer o projeto, que depois será enviado aos demais órgãos para liberação das obras. “Está em andamento, como são três órgãos, tudo é mais demorado, mas acontece”, diz. Desde 1981, o Parque Jardim da Luz é tombado pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, órgão subordinado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

Lagos e esculturas

O parque tem cinco espelhos d’água com carpas. O Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura, DEPAVE-3 regularmente recolhe a água para análise. Todos os lagos do parque têm chafariz, como o Lago da Garça, que tem uma garça imensa. O lago no formato da Cruz de Malta é cercado por oito esculturas que correspondem às quatro estações do ano.

Além disso, o parque possui diversas esculturas expostas ao ar livre, feitas por artistas nacionais e estrangeiros, como a obra “À procura da Luz”, de Maria Martins, de 1940; “Três jovens”, de Lasar Segall, de 1939; “A carregadora de perfume” (La porteuse de parfum) de Victor Brecheret, de 1923/1924. No parque está o busto em homenagem a Giuseppe Garibaldi, herói da Revolução Farroupilha, obra do escultor romano Emilio Gallori, inaugurada em 1910 por Olavo Bilac. O busto traz a frase: Braço heroico para a liberdade dos povos, coração magnânimo para mais aspiração humana de justiça social. (“Braccio eroico per la liberta del popoli cuore magnanimo perogni piu umana aspirazione di sociale giustizia”).

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