Foto: Severino Silva
O esvaziamento das ruas em São Paulo por causa das medidas de isolamento social estabelecidas para combater a pandemia do coronavírus ampliou a insegurança em relação ao risco de furtos e saques tanto do comércio que está de portas abertas como o de portas fechadas. Quem circula em ruas importantes do varejo da capital paulista encontra uma sequência de lojas isoladas por cercas, grades e barreiras de contenção para evitar arrombamentos, além seguranças disfarçados na frente dos estabelecimentos.
Luciano Caruso, diretor geral da Hagana Tecnologia e Segurança, conta que registrou um crescimento de 250% de furtos em lojas monitoradas eletronicamente pela empresa desde de março. “As ocorrências são principalmente nos comércios do centro, na região da 25 de Março.”
“Depois da pandemia, minha loja foi invadida duas vezes”, conta Marcelo de Carvalho, dono da Mototex, que vende uniformes. Ele também é diretor do Sindilojas, que reúne 30 mil varejistas da cidade. “Estou na Avenida Tiradentes, nas barbas do quartel da Rota, o que dá uma sensação de segurança”, reclama Monteiro, do Sindilojas, cujo comércio foi furtado. Com as ruas do centro vazias, ele conta que outros lojistas da região enfrentam problemas semelhantes de furtos e reforçaram a segurança com cercas e alarmes. “O policiamento hoje é para fechar loja”, diz o empresário, em alusão às regras do isolamento social.
O tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo Emerson Massera admite que o perfil do policiamento e dos crimes mudou com a pandemia. Caíram significativamente as ocorrências de furtos, sobretudo de celulares, e aumentaram as ocorrências de reclamações sobre aglomerações de pessoas, funcionamento irregular de comércio. “Mas aumentamos o patrulhamento nas ruas de comércio”, frisa. No entanto, como os furtos são crimes de oportunidade, o policiamento pode não ser suficiente para inibi-los, argumenta. “Não temos como deixar um policial em cada loja.”
Sem revelar as estratégias, Massera diz que, desde o início do isolamento, a PM traçou um plano de policiamento para a cidade de acordo com as três fases de evolução da pandemia. A fase inicial, de contágio: a segunda, a da transmissão; e a terceira, marcada pelo caos no sistema de saúde, que pode levar ao lockdown. “Temos uma estrutura pensada para que criminosos não se aproveitem disso para fazer algumas ações, como saques, principalmente em supermercados, farmácias, postos de combustíveis, caixas eletrônicos.”
A rede de supermercados Hirota, com 40 lojas, não aumentou o número de vigilantes. Por enquanto, acompanha semanalmente os movimentos sociais da vizinhança. Hélio Freddi, diretor da rede, observa que houve aumento do número de moradores no bairro de Santa Cecília, onde tem loja. “Mas, se precisarmos, buscaremos reforço de vigilantes”, diz o executivo, que tem 70 funcionários dedicados à segurança.
Empresas especializadas em segurança registraram aumento da procura de redes de varejo por seus serviços. Cesar Leonel, diretor regional de operações da Verzani&Sandrini, conta que aumentou em 15%, desde o início da pandemia, a demanda de empresas do comércio por projetos de segurança. Esses projetos combinam tecnologia e vigilantes. Os setores que mais estão atrás desse tipo de serviço são redes de supermercados e farmácias. “Neste momento, a procura por esses serviços é pura precaução”, frisa.